quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Nuvens

Noticías:

http://ovp-sp.org/exec_desaparecidos_maio06_paulo.htm

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/05/353903.shtml






Não é uma história real, mas relata como as muitas vítimas inocentes dessa fatídica semana se sentiram.


Cidade Ademar, São Paulo 11 de maio de 2006.
Amaral é um homem de pele parda(preto não né seu moço), 28 anos, marido ,pai de 3 filhos e encontra-se desempregado.
Está desempregado já faz 1 ano e 8 meses, vive de bicos, mas sabe que precisa de um emprego melhor para sustentar sua família.
Mas parece que o sufoco vai acabar. Joeilson, seu amigo de bairro, trabalha em uma empresa de segurança. Por isso Joeilson sempre sabe das oportunidades de emprego que envolvam seu ramo, que é o de segurança, vigilância, portaria e zelador de imóveis.
Acontece que Joeilson ficou sabendo de uma vaga para zelador de um prédio na zona norte de São Paulo. Na verdade o Sindico do prédio é o chefe de Joeilson. O chefe perguntou a Joeilson se conhecia alguém de respeito e confiança que, de preferência casado, pudesse trabalhar como zelador do prédio.
Joeilson prontamente indicou o nome de Amaral e disse ao seu chefe, Senhor Macedo, que iria conversar com Amaral naquela mesma noite.
E foi exatamente o que ele fez, ao chegar em seu bairro, nem passou em casa, foi correndo avisar o amigo.
Ao dar as boas novas para Amaral, logo a casa toda ficou mais alegre, Ana Maria, esposa de Amaral, ficou satisfeita com a notícia, já havia aceso uma centena de velas para santo expedito.
Mas ficara feliz também ao saber que o síndico, Senhor Macedo, precisava também de uma empregada diarista para fazer faxina, já que a mulher trabalhava fora, e os filhos deixavam o apartamento uma bagunça.
Passada a euforia, Joeilson deu os detalhes do contato que seria feito no dia seguinte. Informou que o chefe dele iria contratar Amaral imediatamente, mas que a entrevista era uma formalidade imposta pelo empregador.
Dados todos os recados e conselhos para o dia seguinte, Joeilson saiu, pois ainda não tinha passado em casa e em Cidade Ademar, quando se demora muito pra chegar em casa, ou é por que aconteceu algo, ou é porque foi ao bar beber. Só que a mulher de Joeilson Odeia Bar e sabe que ele a respeita, logo, ela devia estar preocupada.
Amaral e Ana Maria ficaram muito entusiasmados coma notícia, afinal, agora os dois trabalhariam e não passariam mais sufoco. Joeilson disse a eles que no prédio tem um aposento para o zelador que até parece casa de luxo, com 2 quartos, sala, cozinha, banheiro, telefone e tv a cabo.
Amaral ainda morava de favor na casa de um cunhado e sentia muita vergonha de não poder dar um lar para sua família. Achou a proposta interessante, pois sabia que se fosse dedicado no serviço, não seria mandado embora fácil e poderia fazer um pé-de-meia para o futuro.
Cidade Ademar, São Paulo 12 de maio de 2006.
No dia seguinte ele levantou as 04h00 da manhã, pois a viagem era longa até o destino final, e precisava chegar na hora, não podia dar má impressão logo no primeiro contato com o novo chefe. Pegou 2 ônibus mais um metrô para chegar até o bairro. Chegando no metrô pediu informações sobre a rua onde ficaria o seu futuro emprego e descobriu ser próxima a estação, um alívio, pois não precisaria pagar outra condução, já que o dinheiro estava contado pra volta.

Chegou 25 minutos antes do previsto, tocou a campainha, e se identificou ao porteiro do prédio e o mesmo de-lhe instruções para aguardar na sede do condomínio, ao lado do salão de jogos.

Enquanto aguardava ficou admirando o local. Sabia que aquilo era lugar de gente "chique" e que facilmente se acostumaria com a possibilidade de morar ali. Senhor Macedo Chegou às 9h00 como tinha combinado e elogio a pontualidade de Amaral.

Começa a entrevista e o Senhor Macedo pergunta para amaral qual sua história, quantos anos, escolaridade, número de filhos, pretensões salariais, gosto musical. De repente a conversa fica tão descontraída que eles comentam sobre futebol e mulheres.

Por volta das 10h30 termina a entrevista e Senhor Macedo convida Amaral para comer uma pizza na padaria:

- Num vai dar sr. Macedo, to meio sem trocado no momento! - Diz meio encabulado Amaral, por só ter o dinheiro de voltar pra casa, embora a fome já o esteja fazendo ter tonturas.

- Rapaz, deixa de ser bobo! Eu estou convidando, é por minha Conta! E olha, vou ficar muito decepcionado caso recuse. - Diz sr. Macedo com um sorriso que demonstrava simpátia por amaral.

Foram à padaria do bairro. Senhor Macedo comprou 1 pizza inteira, um refrigerante de 1,5 l (seria duas cervejas, mas Amaral insistiu que não beberia em serviço e Sr. Macedo mais uma vez riu, porém aceitou) e ainda dois cafezinhos para tomar enquanto "proseavam".

Encerraram a prosa já era em torno de 13h45, havia ainda as acomodações e as tarefas para serem mostradas a Amaral.

Amaral conheceu sua futura casa, um pequeno apartamento no térreo que ficava atrás do salão de jogos, e seus deveres, que consistia na limpeza do salão, da saúna, da piscina, e das quadras, além de pequenos e eventuais reparos na fachada, calçamento e iluminação do condomínio.

Terminaram a vistoria geral por cerca de 15h30 e Amaral foi dispensado para ir para casa, iria começar na segunda mesmo, e teria que se mudar o mais breve possível com a família. Exceto de fim de semana, já que todos os condôminos estavam lá e não queriam ser incomodados com a mudança.

Às 16h00, pega o metro e vai até o Jabaquara, viagem longa, 45 minutos, mas que ônibus triplicaria o tempo. Descendo no Jabaquara ainda teria mais duas conduções para pegar, mas não entende o que se passa nessa cidade maluca, todos os ônibus lotados, as pessoas correndo, gritando ao celular, muita gente dizendo que ouviu tiro, que bomba explodiu, que avião caiu.

Depois de mais de duas horas esperando, constatou que seu ônibus não viria e que a cidade estava sendo atacada pelo PCC. Resolveu então ir andando para casa, aproximadamente 20 quilômetros a pé.

A caminhada era longa, mas ele não estava sozinho, muitos moradores da zona sul tomaram a mesma decisão de ir a pé para casa. E lá se foi uma multidão de pessoas apavoradas, cansadas, preocupadas com o que estava acontecendo.

E, a cada momento, essa multidão ficava menor, Amaral continuava sua caminhada, mas muitos já tinham chegado nos seus bairros, até que por fim, por volta das 20h35 e ainda faltando 7 km pra chegar em casa, Amaral se viu sozinho nas ruas desertas.

Ele precisava chegar logo em casa para contar as boas novas a esposa. Mas também pra se sentir protegido. Aquilo tudo estava um caos, jamais ele tinha visto a cidade de São Paulo parar desse jeito, nem em final de copa do mundo.

São 22h15 e ele está a poucos quarteirões de casa, já em Cidade Ademar. Percebe que o clima do seu bairro não é diferente do que viu no resto da cidade. Portas trancadas, luzes apagadas, nenhuma voz se ouvia, nem de pessoa nem de rádio. Sem crianças brincando nas ruas, sem jovens namorando ou dançando, sem bares cheios de bêbados farreando, enfim, aquilo era muito insólito.

Enquanto pensava em tudo o que estava presenciando, dois jovens vieram em sua direção correndo e gritando: - Óia us Homiii!!! - e saíram correndo. Amaral que tinha mais medo de polícia do que de bandido, tentou pular um muro para se esconder, porém a viatura já havia encurralado Amaral naquele beco.

- Que que cê tá fazendo aí vagabundooooo! - Pergunta o Policial-1 com a arma apontada para Amaral.

- Seu policial, num sô vagabundo não, sou trabalhador, to voltando a pé do serviço.

- Trabalhador? Com essa cara de drogado e sem vergonha? - O Policial-2 faz pouco caso de Amaral.

- Sô sim senhor, posso provar. - Responde Amaral

Amaral nesse instante faz um gesto para retirar a carteira profissional que acabara de ser carimbada por Senhor Macedo, para provar que realmente dizia a verdade. Mas infelizmente nem tudo na vida sai do jeito que planejamos.
O que Amaral não sabia era que nesse tão conturbado e violento dia, dezenas de policiais morreram em ataques ou confrontos com membros da facção criminosa auto-denominada PCC. Ele também não sabia que internamente (embora não oficialmente), havia uma recomendação do batalhão da polícia militar, que era de atirar primeiro e perguntar depois, para evitar mais baixas, que já estavam ficando surpreendentemente alarmantes.

Então Amaral faz o gesto para retirar a carteira profissional do bolso de trás da calça. Policial-1 entende que Amaral irá disparar contra eles e antes mesmo de Amaral completar a ação, ele dispara dois tiros no peito de Amaral. O Policial-2 dá mais 3 tiros, logo após ver o companheiro disparar, ele atinge o braço, o figado e o cérebro de Amaral.

Terminado os disparos, Amaral está caído, ensanguentado e morto no beco. Os policiais o revistam e descobrem que ele só tinha uma carteira profissional no bolso. O que fazer agora? Mataram um inocente? Não, não pode ser, eles abrem a carteira dele, acham as fotos da mulher e dos filhos de Amaral e ficam pensando que mataram um trabalhador e pai de família.

Com certeza isso seria o fim da carreira deles. Por isso eles decidem tratar de reverter a situação. Na viatura havia uma arma fria que eles apreenderam de um depósito de mercadorias roubadas, mas que os envolvidos fugiram antes da batida. Resolveram que iriam salvar a reputação deles.
Puseram o defunto no camburão e o retiraram do bairro, afinal, alí alguém o reconheceria e desmentiria a história dos dois.

Levaram-no para um bairro afastado dali.

Colocaram a arma na mão do morto, deram três disparos contra as paredes e retiram do cadáver qualquer documento que pudesse dar uma dica da identificação do sujeito envolvido.

Passava das 01h00 da madrugada e Amaral não chegava. Ana Maria ficava cada vez mais e mais preocupada. Ligou pra casa de Joeilson que afirmou não saber nada sobre amaral, mas que assim que soubessem diria a ela.

Cidade Ademar, São Paulo 13de maio de 2006.

Sem ter dormido a noite toda, Ana Maria perguntou a toda vizinhança se alguém tinha visto seu marido na noite anterior. Mas ninguém sabia de nada, até que sua vizinha traz o jornal com a foto de Amaral estampada na primeira página com a seguinte manchete.


"Criminoso é morto em Santo Amaro, após troca de tiros com policiais"
O rodapé da manchete dizia que o criminoso foi encontrado sem documentos, portanto uma arma ilegal além de alguns papelotes de drogas.

Ana Maria quase teve um colapso naquele momento, gritava, pois doía muito. Seu peito parecia que explodiria de tanta dor. Pensava no que seria de sua vida agora, com 3 filhos pra criar, sem o marido. Tentava entender porque o marido dela estava armado, com drogas e em santo amaro. Desmaiou ali mesmo, no meio da rua. Seu irmão foi chamado para levá-la ao hospital.

Chegando ao hospital ela foi atendida e logo liberada. Pediu a seu irmão que a levasse na delegacia mais próxima para reclamar o corpo do marido e pedir retratação da justiça. Quando entraram na delegacia, pediram para falar com o delegado a respeito do sujeito que foi morto por policiais em Santo Amaro.

O delegado ouviu tudo, disse que apuração caso, mas que infelizmente não poderiam reaver o corpo de Amaral, uma vez que já tinha sido enterrado como indigente, e nesse caso a exumação só seria liberada com pedido judicial.

Ana Maria sentia-se traída pelo sistema, não compreendia como um cidadão que foi toda a vida honesto, acaba sendo morto como um criminoso e enterrado como um indigente.

Ela tenta contatar alguns órgãos de imprensa e também ONG's. Todos prometem ajudar, mas acabado o "frisson" dos ataques do PCC eles simplesmente deixaram ela pra lá.

E agora Ana Maria segue sua vida, só, cuidando de seus filhos, ainda em Cidade Ademar








quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Maior Amor do Mundo













Take me now, baby, here as I am


Hold me close, and try and understand



Desire is hunger is the fire I breathe



Love is a banquet on which we feed



 



 



A Vida tem sido boa para esse senhor!
O Nome dele é Julião, o Seu Julião.
Ele trabalhou a vida inteira no que gostava. 
Era barbeiro da pequena e pacata cidade onde morava.
Tinha uma esposa linda,
com quem já estava casado há mais de 40 anos.

Tinha dois filhos já crescidos, que moravam no exterior.
Tinha também um Labrador de 8 anos de idade,
que era seu fiel companheiro de salão.
Quase não saiu da sua cidade. 
Gostava daquele lugar, era bem aconchegante.
Hoje era terça-feira, como de costume, abriu seu salão,
colocou o "Sancho VI" para dentro.
Eram 08h30 e seu primeiro cliente apareceu.

Era o sr. Esteves, dono da padaria e amigo de longa data.
Pediu o corte de sempre
e enquanto cortava o cabelo do Sr. Esteves,
Seu Julião pediu para encomendar um bolo.
Era aniversário de casamento, 45 anos de união. 
Conversaram e decidiram que depois do expediente
Seu Julião iria passar na padaria para retirar o bolo.
Foi um dia até que movimentado,
muitos clientes e amigos o visitam,
ouvem aquela velha rádio AM da região.
Discutem sobre o time de coração que está na 3ª divisão,
mas que "parece um dos grandes"
e que esse ano sobe para a "Segundona".
No final do dia, Seu Julião, fecha a barbearia,
chama Sancho VI e se dirige a padaria.
Lá encontra sr. Esteves, toma uma cerveja mexicana,
que diga-se de passagem é a única que ele bebe.
E vê seu bolo de comemoração.
Diz para o seu amigo Esteves enviar o bolo pra
"Cantina del Fiori"
Lá o Giuseppe termina os preparativos para a festa.
Todos os amigos de Seu Julião estarão presentes.
Julinha, sua filha,
também vira da espanha para comemorar.
Pedro Henrique, seu filho não pode vir,
mas mandou via correio um presente direto de londres.
Tudo estava acertado, Julinha Traria dona Helvécia,
a esposa do seu Julião e mãe de Julinha e Pedro Henrique,
para a Cantina Del Fiori.
Enquanto isso,
seu Julião ia na Alfaiateria do Messias,
para dar os ultimos acertos em seu terno.
Já estavam todos prontos, e seu Julião,
ancioso por ver sua amada,
não se continha em si de tanta euforia.
Quando Julinha surgiu com dona Helvécia,
logo seu Julião mirou seus olhos naquela mulher
que convivera 45 anos de sua vida.
Olhava sua pele,
já com
rugas e sinais do tempo,
mas com uma aparência de jovialidade de uma alma
que não envelheceu um dia sequer.
Tinha um olhar reservado e alegre ao mesmo tempo,
seu rosto demonstrava que ela tinha a ternura e
inteligência capaz de conquistar
qualquer homem.
Seu andar imponente e decidido,
mostrava que sua idade não havia trazido
tantos danos para sua elegância e sutileza.
Enfim, ele via nela
a mesma jovem com quem havia se casado há 45 cinco anos atrás.
Com a diferença que o tempo foi tão generoso,
que a deixou ainda melhor com o passar desses anos.
E assim, chamando-a para si, seu Julião,
pegou dona Helvécia pelos braços,
deu nela um beijo apaixonado
e foram os dois aplaudidos por amigos e famílias.
Ele concluiu que não tinha nada do que se arrepender,
nada que mudar, nada,
enfim nada que fizesse de diferente
para que chegasse a felicidade.
Afinal, ele era feliz e a vida estava perfeita...