quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Os sombras





Minha Flor,
Talvez você fique louca tentando me entender,
Mas prometo que vou tentar facilitar sua vida,
Por isso, aqui está uma pequena análise do que sou,
Até o fim da minha vida eu vou contar tudo... (risos)


Quando eu era menor, até meus 14 anos para ser mais exato, eu era um "sombra".




Isso quase me qualificava como um "sem vida social". Um NERD, magrelo, e timido, tinha tudo para ser o mais zuado da escola.




Mas felizmente eu tinha esperteza. Tal esperteza me garantiu ser um "sombra".




Sombras, são pessoas comuns que passam desapercebidamente entre os outros, o que é bastante util em diversas situações.


Desde avisar amigos de possíveis problemas, até mesmo de escapar ileso em confusões que fogem ao seu controle.




Alguns amigos sabiam dessa minha habilidade e por isso mesmo contavam comigo para algumas coisas, como descobrir o que se passa em um circulo de pessoas que não era afim deles, ou então sondar sobre garotas que eles pretendiam paquerar.




Mas digamos que as vantagens de ser sombra terminam por aqui.




É estranho você ver uma pessoa constantemente e ela chegar para você e dizer:


- Você não é aquele que anda com o Fulano de tal? Já sei, você é o ciclano(diz qualquer nome, menos o seu), não é?!?! Foi bom falar com você, até mais Beltrano (muda o nome, mas continua não sendo o seu), manda um abraço e/ou beijo para Fulano (desse ela não erra o nome mais nem a pau).




E você fica alí, sem entender direito o que aconteceu. Se o seu grupo de amigos é pequeno, é necessário torcer para que nenhum deles falte, porque provavelmente você pode ficar sozinho no meio da multidão.




Daí, você, jovem, timido, ingênuo, fica alí, sozinho, ou com outro amigo, que ou é um "SOMBRA" ou é simplesmente um nerd que é zuado.


Esperando um pedido de algum dos amigos mais populares para que você use suas "habilidades" de sombra, para conseguir algo que eles desejam muito.


E você, como um bom adolescente, aguardando aceitação do grupo, de prontidão realiza tais solicitações, ainda mais sabendo que tais solicitações, na maioria das vezes inclui aproximação das garotas mais belas da escola.




Eu posso dizer que fui um dos melhores sombras que conheci, sabia muito para me manter próximo dos caras mais legais, das garotas mais lindas e também para me manter protegido de encrencas futuras.




Mas quem é deixado de lado por muito tempo, ou cria raiva da situação, ou se acomoda.


Eu nunca fui um comodista, embora as vezes assim pareça.


Quando estava com 15 anos, já estava em outra escola e com novos amigos, que pouco sabiam de tais habilidades minhas.




Como um bom observador, eu sabia como me portar como um "cara legal" ou um dos "mais populares". Coloquei nas sombras meu passado de "um SOMBRA".




Vivia sobre as luzes dos holofotes, argumentava, e criava situações favoráveis a mim, muito diferente do que eu fazia antes.


Me tornei conhecido em minha escola e até mesmo nas escolas vizinhas, andava com o grupo de seletos da escola, era referência e não mais o descartado.


Porém, era vazio, faltava algo.




Talvez a pose seja mais cansativa do que o jogo em si... (analogia as fotos de times campeões antes da partida).




E seguindo esse exemplo que ,no 3º ano, voltei a ser um sombra, mas dessa vez sem me deixar levar pelos encantos de estar com os "mais populares e as mais gostosas".




Agora ainda ando beirando as sombras, mas a luz já bate em minha face me revelando ao mundo. Só continuo beirando as sombras para poder perceber o que se passa sem ser notado pelos outros que tem seu orgulho tão envaidecido que seriam incapazes de perceber minha presença.

Já deu bom dia ao seu cachorro hoje?



Já deu bom dia ao seu cachorro hoje?

Parece até estranho isso, mas fui parado recentemente na rua, quando ia trabalhar, por uma senhora que me perguntou isso.

Fiquei meio perplexo, afinal já tinha ouvido de tudo, se eu já tinha encontrado Deus, se já tinha feito curso disso ou aquilo, se eu me achava capacitado para o mercado de trabalho. Mas essa pergunta foi meio que repentinamente estranha demais.

Respondi que sim, afinal, saio de casa e cumprimento todos, inclusive os cachorros e ademais membros não humanos da residência.

Antigamente era quase meia hora só pra me despedir dos animais, pois havia o Lamburguine, o Pimpão, A Xena Maria, e o Loro (vulgo revoltado).

Tudo bem que eles também merecem atenção, mas e as pessoas?

Porque as pessoas não se dão bom dia umas as outras?

O noivo de uma das minhas primas comentou sobre o fato de que no meu bairro todos que passavam por ele, mesmo sem conhecê-lo, o cumprimentavam.
Eu expliquei que lá, eles cumprimentam porque sabem que, se não te conhecem, conhecem alguém da sua família.

Parece até estranho, mas é uma prática que não é mais tão utilizada nas metrópoles.

Temo o dia em que iremos ser como os norte-americanos e temer a própria sombra.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Minha Flor








Sua alma transborda luz,
Seu cheiro me atrai,
Sua voz me encanta,
Seu sorriso me fascina,
Seu jeito de ser é único,
Não ofende ninguém a não ser,
Aquelas que não conseguem ser tão bela.

- Ué, não rimou! - Diz ela confusa.

- Mas quem disse que toda poesia tem que rimar? - respondi.

- Todo mundo oras! - Responde ela

- Mas eu não sou todo mundo! - Respondi

- É eu sei que você não é todo mundo, mas por que não age como todo mundo e faz um poema com rimas?

- Por acaso você ficaria com qualquer um que fizesse um poema com rimas pra você? - pergunto num tom sério.

- Claro que não! Você sabe que estou com você porque você é diferente dos outros. - responde ela meio encabulada.

- Então, se está comigo porque sou diferente, por que pedir para eu ser igual?

- Deixa de ser chato, você me entendeu, só quero um poema com rimas. - Ela fica um pouco brava, o que deixa seu rosto ainda mais lindo.

- Ah, olha tem uma riminha no final. - Digo isso provocando-a

- Uma riminha só? que coisa mais pobre! desse jeito eu não quero.

- Então você quer um "lusiadas" em sua homenagem?

- Não, só quero que você seja romântico. - Agora ela fez um biquinho de magoada.

- Mas eu não fui romântico só porque não rimei?!?! - Pergunto segurando as mãos dela.

- É foi, mas, não é a mesma coisa. - Agora eu já sei que ela tá fazendo manha.

- Tudo bem minha flor, da próxima vez eu compro um caminhão de rimas tá? - Um pouco de desaforo da minha parte, mas só pra abrir um sorriso no rosto dela.

- Tá bom, mas tem que ser um caminhão com muitas, muitas, muitas e muitas rimas...(risos)

E ficamos ali no sofá, curtindo o resto daquela tarde de domingo.

O Reizinho Valente






A todos os que lutam.

Especialmente para minha amiguinha Camila.
"A coragem é indispensável porque,
em política, não a vida,
mas sim o mundo está em jogo."
Hannah Arendt
Aquela luta durava anos, muitos já tinham perdido suas vidas dos dois lados.
Tudo isso devido a arrogância de seu governante, que foi eleito por voto popular, mas depois que assumiu o posto, começou a agir contra o povo que o elegeu.
Começou com decretos estranhos e sem sentido (aparentemente), mas que posteriormente teriam perfeito encaixe com seus planos. Tratou de infiltrar agentes nos meios de comunicação, escolas, hospitais e todas as repartições públicas.
Seu próximo passo foi infiltrar nas instituições privadas homens de sua inteira confiança e total lealdade a ele. Feito isso, começou a sua ultima jogada, a difamação dos seus rivais políticos.
Semeou calúnias e difamações, criou pequenos boatos e divulgou notas duvidosas para poder minar a credibilidade de todo e qualquer um que pudesse intervir nos seus planos.
Consegui, assim, deixar a maioria da população em um estado letárgico perante aos decretos e mais decretos que foi lançando. Chegou o dia de colocar seus pensamentos de dominação em prática.
O exército foi para as ruas, e começou a fechar escolas, bancos, supermercados, igrejas, hospitais e tudo quanto era lugar que poderia conter pessoas aglutinadas. Foi feito o censo geral da população, colocado chips de localização em cada um dos habitantes.
Os livros e qualquer outro tipo de materiais impressos foram banidos do país, assim como telefonia, radiodifusão e outros meios de comunicação. A única forma de saber sobre o mundo lá fora, era através das notícias transmitidas a cada hora pelos carros de som do governo. Com isso ele pretendia reprimir qualquer tipo de futura resistência ao seu regime totalitário.
Contudo, como Darwin disse: " A vida sempre encontra um jeito, ela se adapta". Da mesma forma podemos dizer da revolta. Não é possível calar a voz de muitos por muito tempo. Logo a população que vivia em uma obediência servil, passou a tomar consciência da necessidade de mudança.
Aprenderam a transmitir suas mensagens na rua através de códigos gestuais, o que os livravam de qualquer comprometimento quando fossem interrogados por oficiais do exército. Começaram a se comunicar com seus vizinhos de apartamentos através de batidas nas paredes, estender de lençóis, os que residiam em residências, faziam o mesmo através do corte da grama, do passeio com o cachorro, ou até mesmo com a forma em que fora colocado o lixo para ser recolhido.
Andavam nas ruas se olhando e cumprimentando, dando os passos para o grande dia da revolução.
E o dia chegou, sem que ao menos o ditador desconfiasse, eles tomaram as ruas de todas as cidades do país e enfrentavam os soldados do exército, conseguiram ganhar nesse dia, mas o número de soldados na rua era infinitamente menor ao dos quartéis, afinal o ditador acreditava que os habitantes já tinham se curvado à sua autoridade.
No dia seguinte, o ditador resolveu mandar um agrupamento para cada uma das principais cidades, deixando as cidades do interior do país em segundo plano. Nas principais cidades o exército fez vários massacres, mas com grandes perdas também. Enquanto isso, as cidades do interior do pais, se uniam, enviando mensageiros entre si, para organizar o levante em direção a capital do país.
Decidiram que a melhor estratégia de guerra, seria recuar para o interior do país, para ganhar tempo e preparar uma estratégia de contra-ataque. Feito isso, o exército logo começou a perseguir os revolucionários do interior, enquanto nas principais cidades a luta persistia e os revolucionários dessa cidade não se deram por vencidos, embora não ganhassem todas as batalhas, atrasavam ou comprometiam seriamente batalhões e destacamentos inteiros do exército do ditador.
Após todos os grupos de revolucionários do interior se unir quase na divisa com o país resolveram marchar em direção a capital. Com intuito de destituir o então presidente e ditador. O exército do ditador, que não esperava por emboscadas, estava bastante comprometido naquela altura, já havia se passado dois anos, e eles tiveram grandes problemas para cruzar o interior do país. Muitos integrantes do exército dos resistentes, ficaram a espreita do exército, fazendo tocaias, armadilhas e ataques furtivos durante as madrugadas.
E no meio do caminho, a força principal do exército viu-se cercada pelos revolucionários do interior que agora marchavam em direção a eles e também dos revolucionários das grandes cidades, que enfim venceram e iam se juntar aos outros para aumentar o grupo. Nesse embate ouve tantas perdas para os revolucionários, que em outras ocasiões eles desistiriam ali e esperariam pacientemente serem esmagados pelo que sobrava do exército, que se encontrava ainda na capital.
Porém, eles corajosamente prosseguiram em direção à capital. Prontos para que sua liberdade fosse-lhes concedida, não importando o quanto isso custaria. O ditador foi várias vezes avisado por alguns conselheiros para que saísse do posto, sem que esse desse qualquer tipo de atenção aos avisos.
Finalmente o exército revolucionário chegou aos arredores da cidade, todos cansados, feridos e receosos. Contudo, a sua vontade de vencer era mais eminente que qualquer medo que os afligia.
Pouco a pouco foram tomando a cidade, com muitas baixas dos dois lados, mas sem perder por nenhum segundo o seu ímpeto de um guerreiro glorioso. Cada vez mais perto de atingir seus objetivos os combatentes de animavam e se apoiavam uns aos outros, até que chegaram na ultima das muralhas, o palácio do governo.
Chegando em fronte do palácio viram um grande avião decolando. Era o ditador, e seus assessores que estavam fugindo do país. Tão covarde era o homem a quem eles se revoltaram, que nem teve a coragem de enfrentar seus inimigos, assim como fez todos aqueles batalhões que ele enviou para protegê-lo.
Finalmente a liberdade! Agora vêm o mais difícil, a reconstrução da identidade.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Pessoas


Sete horas da manhã de um Domingo nublado,

Não sei porque, mas já estou acordado e não tenho sono.

Na varanda do meu apartamento vejo a praia.


Este é um fim de semana atípico, a praia está vazia, não tem muitos turistas, somente alguns poucos moradores que sempre acordam cedo para fazer seus exercícios matinais.

Fico aqui, da varanda, a observar as pessoas passando na rua.

Trabalho em um escritório cheio de aparatos de informática e quase não tenho contato com as pessoas.

Digo isso pois dirijo meu carro sempre sem nenhuma companhia durante a semana, quando chego em casa falo o menos possível com minha mulher, nossa relação já está complicada faz um bom tempo.

Na verdade acho que ela tem um amante, mas creio que ela deve pensar o mesmo de mim, então não conversamos para evitar um desgaste maior.

Final de semana fico em casa, jogando, comprando e me relacionando pela internet. Acho que o mundo virtual tem me trazido mais atrativos do que o mundo real ultimanente, e isso é muito perigoso.


É, já são 7h52min, ainda estou aqui na varanda, com a calça do pijama, uma Havaianas® velha, sem camisa e debruçado no parapeito observando as pessoas.

Agora já há mais pessoas do que no começo da manhã.


Alguns surfistas começaram a se preparar para tentar pegar alguma onda, casais de idosos caminham tranquilamente sobre o calçadão, ciclistas passeiam pela ciclovia.


Acabou de passar uma viatura da polícia apressada com a sirene e os faróis ligados. O que será que aconteceu? tão cedo?

Agora tem uma criança com um cachorro. Muito bonito o cachorro por sinal.

Tem uma menininha andando de patins na ciclovia, uns banhistas, um vendedor de sorvete ( realmente eu não entendo, a essa hora e com esse tempo? vai ficar no prejuízo hoje).

Nossa, já são 8h23min, preciso comprar pão e leite.

Tenho que descer pra ir até a padaria.

Mas nesse "tempinho mais ou menos"?!?!

Melhor eu ligar para padaria e encomedar as coisas e pedir para que entreguem aqui.

Agora, se me dão licença, vou até meu computador, falar com meus amigos virtuais de Okinawa que devem estar me esperando para discutirmos sobre Tibia.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Esperança


Essa é uma história real!

"Pelo menos oito nações africanas se vêem envolvidas em litígios.

Há 200.000 crianças enredadas em lutas e o território está coberto

por mais de 18 milhões de minas terrestres que,

camufladas, explodem mesmo em tempo de paz e mutilam milhares de pessoas.

A população africana está se transformando num exército de subnutridos e aleijados.

Estradas, pontes e praticamente toda a infra-estrutura dos países estão destruídas.

Pelo menos 3,5 milhões de pessoas se encontram fora de casa,

fugindo das guerras ou em busca de trabalho."


E é com esses dados que começo essa postagem.

Lembro-me que uma vez estava a assistir um programa da Rede Cultura de TV há cerca de 3 anos e vi uma matéria que me deixou profundamente marcado.


A repórter da emissora foi na época acompanhar um grupo de crianças dos países desenvolvidos que junto com as crianças que viviam em situação de risco nos paises subdesenvolvidos participavam de um projeto que se não me falha a memória se chamava: "Crianças do Mundo pela PAZ".


Haviam várias crianças em situação de risco que com 9 a 15 anos de idade já passaram por mais coisas que uma patricinha de 30. Alguns foram explorados em trabalhos degradantes, ou vendidos como escravo pelos seus familiares.


Mas havia uma menina, vinda da africa, que mais chamava a atenção da repórter. Chavama a atenção por andar toda coberta e por falar muito pouco ou quase nada.

Quem acompanhava essa menina era uma freira, que já foi indicada para o Nobel da paz pelos trabalhos humanitários realizados no continente africano.


A repórter finalmente chegou no momento de perguntar para a Freira qual era a história da menina. A freira se encontrava no jardim do hotel onde estavam hospedados e as crianças brincando próximas a equipe de tv.


Primeiro a freira explicou que no país da menina existe uma guerra entre tribos que já dura mais de 40 anos. E que por isso muitas atrocidades foram comeditas nesse periodo e que também por isso a menina que estava ali era orfã.


Agora vou descrever o que foi dito a reporter:




" Eles (a outra tribo) chegaram na aldeia da menina com jipes, cavalos e caminhões.

Armados de pistolas, espingardas, foices e facões.

A aldeia estava com poucos homens e os que lá estavam logo foram mortos pelos agressores. Em pouco tempo já tinham dominado toda a aldeia.

Chegaram na casa dela, mataram seus irmãos mais velhos com tiros, violentaram sua mãe e ela. Depois surraram as duas, retiraram os orgãos genitais delas, deram mais uma surra, dessa vez com os facões desembainhados.

Não contentes urinaram nelas, e por fim despejaram querosene em todas as casas da aldeia e atearam fogo com as mulheres ainda vivas lá dentro.

Eu cheguei algumas horas depois, pois eu e meus companheiros de luta fomos avisados que os agressores dirigiam-se até aquela aldeia.

Quando cheguei lá, encontrei-a totalmente despida, toda ensangüentada, caída no chão, desacordada, com queimaduras em mais de 60% do corpo.

Levei-a para o hospital e aguardei cerca de 2 semanas até que percebi que ela melhorava e que não iria morrer.

Hoje ela está viva,felizmente. Mas, não desejo para ninguém o que essa menina sofreu.

Mas infelizmente essa é uma dura verdade que está muito longe de se extingüir."



Quando a freira terminou a narrativa, a repórter pediu um momento e foi tentar se re-estabelecer, pois naquele momento as lágrimas literalmente lavavam seu rosto.


Enquanto a Repórter chorava, a menina, cuja a freira acabara de contar a história de vida, aproximou-se da Repórter e perguntou:


- Por que choras? - com a mais pura singeleza.


- Choro por tudo o que você passou! - Responde a repórter, ainda soluçando e acariciando a face da menina.


- Não fique assim! Veja, agora estou bem! - Responde a menina para a reporter, mostrando um sorriso que alegraria qualquer coração.


Então a repórter beijou a testa da menina, e prometeu que ficaria feliz, afinal a menina estava viva e, segundo a própria menina, era isso o que importava.



domingo, 7 de outubro de 2007

O Re-erguer do Cavaleiro


O mundo há muito já não é mais o mesmo.

As pessoas não sonham mais.

Elas vivem uma sucessão de acontecimentos rotineiros.

As coisas, finalmente, tornaram-se mais importantes que as pessoas.

Mata-se para se conseguir o que quer.

A população não liga mais pra si mesma.

Maltratam-se uns aos outros, e vivem infelizes e a reclamar.

Tudo isso porque ele desistiu de sua missão.

Mas quem é ele? Vocês perguntam, sem saber ao certo do que se trata.

Ele era o cavaleiro de bons modos.

Aquele que tinha o dom de "Conectar-se aos corações alheios".


Sua vontade de ajudar era tão grande que parecia invencível.

Mas, surpreendentemente, ele foi vencido.

Vencido pela arrogância do mundo.

Essa arrogância levara as pessoas a acreditarem que sonhar era perda de tempo.

Que boas ações, desprovidas de qualquer interesse, eram inúteis.

Que o próximo não podia ser mais do que um adversário a ser enfrentado.

E então, um dia, ele sucumbiu em sua Jornada e se retirou da batalha.

Seu esconderijo era a sua decepção com o mundo. Isolou-se dentro de si mesmo.

Não podia mais ser chamado pelo nome que lhe foi dado.

Mas algo estava prestes a acontecer.

Ainda havia muita pureza no mundo, mesmo que o cavaleiro não a sentisse.

Mas o acaso é cheio de truques para se fazer notado.

Durante uma das peregrinações de desolamento do cavaleiro, ele passou por uma jovem na estrada.

Essa jovem o reconheceu. Ele, como já havera feito antes, dissera que a moça tinha se confundido.

Mas essa o conhecia bem, pois ele já havera se usado suas habilidades com ela.

Ela não aceitou aquela desculpa, e o agradeceu.

Disse que graças aos feitos dele, ela pode ajudar os outros.

Ela abriu um sorriso. E com esse sorriso, ele viu que estava sendo um tolo por desistir.

Seu coração havia recebido novo ânimo para proseguir.

E então ele abriu sua mala.

Nela havia a sua armadura.

Ele a trajou novamente, agradeçeu a jovem, dizendo que naquele momento ela tinha salvado-o.

Fazendo isso, pois-se a combater novamente.

E agora luta, luta por um mundo melhor, mais justo e com sonhos.


Eis, senhoras e senhores, o Guardião dos Sonhos.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A Bailarina

Era mais uma vez que eu ia naquele lugar.

No fundo eu nem gostava muito de ir lá. Mas, enfim, uma de minhas primas me convidou e eu já estava querendo sair um pouco mesmo.

Mas aquele nunca fui meu lugar. Não me sinto muito a vontade, a não ser que vá acompanhado de meus amigos. E minha prima pode até ser bem intencionada, mas não é uma companhia muito dedicada. Também havia a amiga dela, mas era quase como se não houvesse.

A noite seguia, enquanto eu tratava de me entrertir de duas formas: uma era bebendo e outra era vendo os outros dançarem.

Não necessariamente os outros, mas sim as outras. E uma dançarina em especial me chamava a atenção. Não por ser a mais bela, ou por estar se insinuando para mim (que não seria nada mal caso fosse por isso). Mas o motivo que me chamava atenção era a sua dança.

Dançava sem pretenções, sem limites de espaço e como se as músicas fossem tocadas especialmente para que ela pudesse dançar. E ela dançava, dançava com entusiásmo de uma criança que recebeu o presente que esperou o ano todo.

E eu alí, hipnotizado, totalmente imobilizado por aquela dança. Se ela fosse meu carrasco, eu não teria maneiras de resistir, nem ao menos perceberia meu fim. Se fosse um inimigo, aniquilaria-me sem que eu desse conta do que se passou.

A noite acabou, a bailarina se foi, e eu voltei para meu mundo. Mas por um momento, eu me entreguei ao mundo dela. Onde não havia preocupações, medos, dor, fome. Só havia música e dança.

Definitivamente é um mundo que não me pertence e que muito menos eu pertenço a ele...


Assopro, Tapinha lateral e Durepox®

Foi-se o tempo em que essas três coisas davam jeito em qualquer problema do lar.
Quem teve um Atari® sabia que para resolver mal contato da fita, nada melhor que dar uma bela "assoprada" no encaixe dela, para depois jogar seu River Raid ou o PACMAN sem problemas.
Já a televisão com listras verticais ou horizontais, o rádio chiando, a máquina de lavar que desligava sozinha e no meio da pilha de roupa pra lavar, pra esses casos, um belo "Tapinha lateral" e tudo resolvido.

E quando quebrava uma peça do armário da cozinha, soltava o fio do ferro de passar, descolava a sola do sapato novinho, estourava o cano da torneira? Ah, nesse caso, passa Durepox®. E se não tiver em casa, corre no mercadinho do seu Joaquim e pede pra por na conta.

Agora, quando o problema é nosso coração? Tem como assoprar pra ver se é mal contato? Ou então dá pra dar um Tapinha lateral, de leve, só pra ver se ele funciona normal? Ou será que já existe um Durepox® que cole um coração partido?


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Os Refugiados


Domingo, durante a tarde.


Ando pelo meu bairro e vejo pessoas com portas, janelas, móveis, fios e portões andando pelas ruas.

Eu não me surpreendo. Afinal, o prazo que lhes foi dado acaba nessa quarta. E quando acabar o prazo, o trator não vai querer saber quem está ou não com a mudança concluída, simplesmente vai passar por cima.


E lá vai essa gente, arrancando tudo, deixando só as paredes, porquê não é possível carregá-las e depois montá-las em outro lugar (mas se fosse possível, não duvide de que não fariam isso).
Levando em caminhões, carros de mudanças, carrinhos de mão, na cabeça, nas costas.
Tudo porque o Rodoanel vai passar, e não pode ter favelas do lado de um empreendimento bilionário do Governo.
Pra Onde Vão essas pessoas? que nasceram e cresceram naquele bairro? Ele que teêm família, amigos, e laços afetivos com aquele lugar?
Isso não importa pro governo, Pagam uma quantia relativa ao valor venal do imóvel e uma indenização, ou então constroem uma casa bem longe dali.
Até que um dia, resolvam que o lugar onde eles estão morando não pode mais ser deles, daí vem o trator de novo.